22
dez
2008

Só, ou em grupo?

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1 Comments
Eu relutei um tanto para escrever esse post porque ele me atinge muito diretamente, e particularmente é algo de que eu não me sinto a vontade para comentar.

Parkour nos dá liberdade. Liberdade de movimentação, liberdade ideológica, liberdade pra fazer suas próprias escolhas e pra tomar as decisões que achar-se a vontade. Mas, e quando o curso natural das coisas te impõem uma realidade, que por ora não tem como mudar?

Treinar só, para muitas pessoas é uma escolha. Para mim é uma sentença. Se eu me prolongar nessa cadeia de raciocínio vou me colocar na posição de coitadinho e fazer você ter pena do magrelo solitário que escreve o texto. Por essa razão vou me focar nos benefícios e problemas que essa imposição me traz.

Meu treino normal é calmo, pacífico e o mais imperceptível possível. Eu sou um estranho num ambiente onde todas as pessoas se comportam da mesma maneira. Qualquer brutalidade na movimentação me coloca na postura de alvo de olhares. E pra quem preza um treino concentrado, deve ter noção de como isso é desagradável. Por consequência, esses treinos me levam a ser técnico, preciso e simples. Simplesmente, não há como treinar cavalices e me doar ao perigo (pois em caso de emergência não tenho um socorro amigo do lado).

Dois meses atrás um muro caiu em cima de mim. Treinava sozinho, numa rua semi-deserta e um grupo de meninos quando viu a cena começaram a rir enquanto eu estava deitado no chão. Passados uns 5 minutos, ao perceberam que eu não me levantava, é que foram prestar auxílio. Pior do que o machucado, eu acho que era ter que confiar em rostos estranhos. Fui carregado nos braços por um cara que eu nem sei o nome. Minha vulnerabilidade naquele momento era a maior possível e a dependência inevitável de um estranho... humilhante.

São coisas assim que um treino em grupo evita.
Você se sente abraçado por pessoas que compreendem o que você faz.

São pessoas que podem não estar seguindo os mesmos passos que você, mas que estão de alguma forma em busca do mesmo objetivo. Essa proteção não serve somente em caso de acidentes. Muitas vezes o seu conceito de sua própria movimentação é tão acomodado, que você não enxerga sozinho os limitantes que você mesmo se impõe. Uma palavra de um amigo que diz "joga o braço por ali que é mais fácil" facilita um aprendizado que talvez eu, em horas de treino a fio, não fosse capaz de perceber.

Faça treinos solos.
Eles te auxiliam a conhecer mais a si mesmo.
Porém, em hipótese alguma, se coloque em uma redoma. Se aproveite dos seus parceiros de treino. Use-os porque isso dá a eles a chance de serem úteis ao mesmo tempo que te fortalece. O futuro do parkour assusta se você pensar em uma realidade onde as pessoas são auto-suficientes.


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Um comentário:

  1. "O futuro do parkour assusta se você pensar em uma realidade onde as pessoas são auto-suficientes."

    Taporra.

    Duddu, queridíssimo. Nem tive tempo de me despedir direito, é tudo muito corrido nesses encontros, principalmente, quando se está na organização da coisa.
    Mas enfim, much luv.

    Sobre o texto. Concordo com vários dos aspectos descritos por vc. E gosto muito do ambiente de treino quando é possível treinar em grupo, se disciplinados e motivados pelo mesmo objetivo.

    Se vc conversar com algum dos pkmaxianos, acredito que irá escutar a mesma resposta. Discordamos em várias coisas, mas uma opinião é unânime entre a gnt. Ou seja, o melhor treino, o mais focado, é com 3 pessoas. Mais q isso existe o risco de dispersão. E oq eu acho mais díficil na rotina dos treinos é alcançar a motivação para sair de casa e fazer um treino solo. Quer dizer, sair e fazer um treino sozinho nem é o mais difícil, mas fazer treinos sozinhos sempre é o mais difícil. Por isso, e outras coisas, te dou moral. Sair sozinho pra treinar sempre é foda, criar ânimo pra isso é foda.

    Quero fazer-te companhia num desses treinos ainda. Torçamos.

    Bons treinos,
    B.

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