Já há algum tempo eu tenho uma certa visão que vem me entristecendo em relação ao rumo que o Parkour vem tomando. Tenho a impressão de que a há um fenômeno que acompanha o parkour desde sua criação, e que foi o responsável por fazer a atividade chegar onde está hoje, mas agora esse mesmo fenômeno o põe em risco.
Aproveitando a situação pela qual estamos passando, venho aqui desabafar o meu medo e tristeza. O texto convém com o momento, mas não pretendo nele falar somente de um ponto ou outro. Vou tentar expressar minha opinião e explicar melhor este fenômeno.
Completo 8 anos de parkour daqui a aproximadamente 15 dias. E nesse tempo já passei por muita coisa. Li muito, vi muito documentário, corri atrás de muita coisa, organizei, briguei, discuti. Já viajei, conheci, treinei, me arrombei, tive uns 3 períodos de recuperação para voltar a treinar. Quanto mais aprendo, mais ainda percebo o quanto tenho ainda que conhecer, ensinar e aprender.
Pra começar, tenho a impressão de que temos andando rápido demais com o desenvolvimento do Parkour em alguns pontos. O Parkour é uma atividade que não tem nem 30 anos de “criação” (aquele que conhece a história dele vai entender o motivo das  aspas). Com menos de 30 anos de estrada, ele já se tornou a atividade desportiva de expansão mais rápida da história até o momento. Não sou eu que cito esse dado, mas a monografia de um colega educador físico. Se formos olhar o tempo que o Parkour levou pra chegar nos moldes de hoje, pela divulgação dos próprios idealizadores, podemos dizer que essa expansão brutal aconteceu de forma ainda mais rápida e assombrosa, aproximadamente 20 anos aí.
No Brasil o Parkour tem aproximadamente 10 anos. Alguns raríssimos praticantes começaram antes disso, mas posso basicamente dizer que esse foi o início. Eu me considero e faço parte desse grupo inicial que começou sem nada e teve que se matar atrás de qualquer informação ou reconhecimento da sociedade. A partir desta, surgiu outra geração, uns 3 ou 4 anos depois, com outra mentalidade não pior nem melhor, simplesmente diferente (no geral). Me assusta pensar como 3 ou 4 anos podem criar pontos de vista tão diferentes!
Poxa, o que são 4 anos? Três ou quatro anos realmente separam uma geração de outra? Me assusta mais ainda ver que deste grupo, que começou 3 ou 4 anos depois de mim, surgiu um terceiro grupo, com menor diferença ainda de tempo (uns 2 anos eu diria), que parece ser uma mescla entre receber uma enxurrada de informações distorcidas e entre não procurar se informar sobre o que a atividade realmente é.
Não quero generalizar. Conheço muitos praticantes de todas as idades e diferentes tempos de treino, que tem a mesma mentalidade que eu. E conheço também pessoas que começaram na mesma época que eu e que nunca se preocuparam em buscar informações, saber o que é ou repassar os valores do Parkour. Eu noto que, em outras atividades, existiu também essa disseminação e popularização, mas que em muitas delas levou 30, 40 anos ou mais, enquanto no Parkour tudo isso aconteceu em 10! Eu não queria me estender muito nesse ponto, mas ele é crucial para algo que pretendo falar adiante.
Eu vejo parte dessa culpa em nós. Sim. Fomos nós, do começo, que em minha opinião, corremos demais. Criação de grupos, associações, levar o Parkour para as academias, espaços fechados e aos mega-eventos (e aqui não estou falando de encontros). Pessoalmente, sinto um pouco de tristeza. Sinto como se a “infância” do Parkour tivesse se perdido. Fizemos um Big Jump (como o Ettore disse) e pulamos parte dessa infância.
Sei que muitos pensarão diferente, mas é esse meu sentimento e desabafo.

Indo ainda mais longe, sinto que vivi uma infância do Parkour no Parkour. Ao mesmo tempo vejo que a geração após a minha parece ter perdido isso e é algo que eu sinto muito. Me deixa triste por achar que eles perderam algo e por me achar parcialmente responsável por isso.
Agora, chegamos a um ponto polêmico,  considerado um câncer,  ou “o grande mal”, o ponto da competição. Mal temos 20 anos de história no Parkour mundial e já temos uma porrada de competições baseadas no Parkour! Mas antes de tudo, vou explicar o porquê considero isso um “grande mal”.
Eu não sou radicalmente contra competições. Sou até bem compreensivo e respeitoso. Quem me conhece sabe disso. Mas sou categoricamente contra e vejo sim grandes problemas nas competições em geral: corrupção, distorção de valores, comercialização da atividade como um produto, pressão e mais pressão sobre o atleta, mais corrupção... e muitos outros fatores poderia citar. Vejo também alguns (poucos) pontos positivos.
Voltando ao parkour. Por que sou categoricamente contra competições? Essa é uma pergunta que me faço praticamente todos os dias. Ora... eu sei que um dia as competições de Parkour vão chegar (e serão comuns), mas o grande problema que vejo é a pressa com que temos conduzido até este momento. Se os valores da atividade, se a filosofia, se o processo de aprendizado já é distorcido pelo que temos atualmente, imaginem quando se envolve um negócio tão lucrativo quanto as competições. Podem dizer que na França e Europa tem várias competições, que até um Yamakasi já ajudou a organizar uma. Mas usar isso como argumento é ingenuidade e conformismo. Na França e em muitos lugares da Europa já se possui um Parkour mais consolidado, e enquanto lá muitas pessoas verão uma competição e dirão “Isso é Parkour”, aqui no Brasil, uma pessoa vai me ver na rua e vai dizer “Olha, esse é aquele esporte que eu vi na TV semana passada”. E eu não vou entrar no mérito aqui de se é ou não Parkour pelo fato de estarem competindo. Meu foco é a imagem externa.
No dia em que os eventos competitivos forem comuns, eu provavelmente gostaria que fossem no modelo do Desafio Urbano. Mas não o apoio agora. Eu gostaria que, quando as competições fossem comuns, as pessoas pudessem olhar e dizer “Olha, isso é aquela atividade que busca eficiência, de treinamento físico e mental” ou até mesmo quem sabe “Olha isso é Parkour”. Mas sabendo o que realmente é ou tendo pelo menos a possibilidade de encontrar boas fontes sobre o assunto. Sei que isso pode até ser meio utópico, mas é o que eu gostaria.
Afinal, se formos olhar pra tantas outras atividades podemos ver como elas se perderam de sua criação até hoje. Beto, nós dois treinamos Tae Kwon Do, e você sabe a quantidade de mestres horríveis que existem e só pensam em lucrar, competições mal organizadas, e escolas de Tae “Ken” Do.
Duddu, você treina Kung Fu e sabe do que eu estou falando. Pop, você fez JiuJitsu e também sabe. Edi, você que andava de patins sabe o quanto a durabilidade é deixada de lado pela fama. E sei que por esses motivos vocês apóiam minha visão.
Jean, durante nosso tempo de Parkour, quantos instrutores péssimos não surgiram? Quantas histórias de pessoas que só queriam lucrar, cobrando pra dar aulas de “algo que não era Parkour” você não soube e inclusive me contou em várias conversas? Você é meu amigo e eu sempre lhe apoiei muito, até quando você abriu a academia quando muitos outros eram contra. Mas hoje, eu não te apoio.
 Citei estes nomes por que são provavelmente as pessoas que mais me fizeram crescer no parkour, e ter uma mente crítica como a que tenho hoje. E por que senti necessidade. Espero não causar desgostos a ninguém por isso.
Muitos podem dizer que este rumo é inevitável. E talvez seja mesmo. Mas eu não vou ficar parado esperando que o Parkour, a atividade pela qual dei meu sangue (literalmente) por tantos anos, passe pelo mesmo que tantas outras. Que se torne um produto. Que se criem péssimas academias com péssimos instrutores. Não vou esperar que o Parkour vire “Parkur”. E pra você que diz amar o parkour, mas que tais coisas são inevitáveis (e que nós não podemos fazer nada) saiba que essa visão sua é apenas comodismo. Essa é a atitude mais anti-parkour possível. É uma aceitação cega. É ficar sentado por que é mais fácil.
As competições são sim inevitáveis, mas a deturpação dos valores do Parkour não. E enquanto as competições que se criarem trouxerem risco a esses valores, eu vou me posicionar contra. E se você quer ficar em casa coçando o queixo, pode ficar, afinal isso sim deve ser Parkour, né?


Mas se for pra ficar sentado em cima do muro, deixa ao menos quem tá tentando fazer algo passar por ele. 

Texto escrito pelo Poeta (Christiano Gonzales).

Eu acho que o fato do Parkour não ter competições faz com que eu repense sobre algumas coisas a respeito do universo parkourístico. Por exemplo:

Se não competimos, então EU [observe que eu estou falando de mim, não de você] não cultivo o interesse em 'acavalar' meus movimentos para impressionar e/ou superar os outros. A partir do momento em que eu desconsidero a competição, eu passo a considerar os outros tracers como amigos e não como adversários.

Sem competição eu não tenho o julgamento do melhor tracer ou do pior e acho que esse é um ponto muito importante. Eu não fico avaliando "Pow, esse cara é foda", "Pqp que gostosura aquele absurdo" ou "O novo vídeo do Williams Belle é lindo (só pq ele é um Yamakasi)". Não avalio dessa forma porque não é coerente eu pagar pau pra outras pessoas como se eles fossem melhores ou piores do que eu. Admirar é uma coisa, chupar o ovinho direito é outra coisa. As vezes, entre os amigos, eu digo que pago um pau e quase sempre é só de zoeira (porque eu preciso honrar meu nome e fama HU3HU3BRBR).

Pra ser sincero, as vezes eu avalio sim, mas sempre que percebo que tô fazendo isso eu paro, organizo meus pensamentos e procuro enxergar as coisas sob outra ótica.
Penso que muitas pessoas não refletem sobre isso, porque na verdade isso fica meio que nas entrelinhas. É preciso um mínimo de reflexão em cima de alguns pontos para que se possa desenvolver uma outra forma de enxergar o PK e, consequentemente, outras coisas acerca da vida. 

"Poeta todo pau no cu, onde ele quer chegar?" 

Acontece que todo mundo sabe que Parkour não tem competições, mas me parece que a maioria das pessoas só enxergam até aí. Essas pessoas, acho que só consideram competição quando tem uma medalha de ouro pra quem chegar primeiro. Daí eles decoram a frase "No pk não tem competições" e vai treinar PK como se fosse G.O. sem medalha. Só to escrevendo isso aqui porque é um desabafo mesmo.

Tô cansado de ler comentários 'pobres' em vídeos "promocionais" que rapidamente se tornam virais no Facebook. Vídeos que poderiam passar coisas realmente valiosas, mas que na verdade são apenas uma montagem de movimentos "alucinantes" que foram colecionados exclusivamente para isso (e que é muito, mas muito vazio em conteúdo e, as vezes, em criatividade).

Tenho saudade de um tempo no Brasil onde os vídeos eram feitos apenas para que os outros pudessem avaliar defeitos e corrigir a sua movimentação. Sério, existe muito vídeo bom por aí, mas os mais "extremes" são os que são mais compartilhados no Facebook e que possuem comentários "uooou mano que foda, flowzudo, picudo, gira litros". Isso sem contar com as atualizações DIÁRIAS em grupos de PK, onde a legenda sempre é algo assim: "Saiu o novo vídeo do [nome do grupo ou tracer], galera! Curta e compartilhe com seus amigos" ou "Novo vídeo da [nome do grupo ou do tracer]. Dá uma moral aí, galera!". 

Deixo aqui então uma dica: nem assista pra não dar views, até porque, sério, não vale a pena.

Não sei se é uma regra, mas quando comecei a treinar Parkour foi muito difícil a aceitação da população. Muitos dos xingamentos e proibições da utilização de alguns espaços vinham em função do medo do desconhecido por essa nova apropriação dos espaços urbanos. Hoje, com muito mais facilidade, é possível conversar sobre esse assunto por causa da quantidade de veículos de comunicação que divulgam a atividade e também por causa dos eventos de Parkour que acontecem por todo mundo e colocam praticantes mais em contato uns com os outros.

Lembro que romper com o paradigma de treinar na frente de uma agência bancária, por exemplo, era muito difícil. Sempre os seguranças do banco falavam algo do tipo: "Isso que vocês fazem aí compromete nossa atenção na segurança do banco." E por aí vai... Casas abandonadas vinham sempre seguidas de abordagens policiais na procura por drogas e que acabavam por achar apenas moleques saltando.

Por fim, as praças se tornaram nosso maior ponto de encontro e de treino. Nelas fizemos treinos físicos, conversamos sobre a atividade, marcamos encontros estaduais e é até comum que cada estado tenha uma preferida.

O que me pego pensando ultimamente é que talvez, só talvez, tenhamos deixado o Parkour ficar preso nessas praças. Assim como as linhas do campo de futebol delimitam até onde o jogo pode ir e assim como eles possuem tempo definido e roupas adequadas para participar do esporte. Quando delimitamos o local do treino, parece que o percurso torna-se, definitivamente, do ponto A ao ponto B. Somente isso. Dentro apenas desse espaço e onde o “jogo” começa com data e hora marcada.

Questionei sobre isso ao observar o treino de alguns amigos e perceber que eles partilham desse ideal de não deixar o Parkour preso as praças (ou ao pico). A perspectiva que imagino de um Parkour livre é também de um Parkour para além do pensamento reducionista de mera atividade física. Distante de um Parkour limitado que impede a continuidade de um "flow" nas possibilidades cotidianas da vida do praticante.

Tenho dois amigos que já cortaram o cordão umbilical com as praças e hoje colocam a prova todo o fortalecimento que adquiriram com os treinos, em situações onde muitas vezes não se pode testar ou verificar as chances de algo dar certo ou não. Dessa forma também se quebram as linhas que delimitam o espaço do tracer e que faz com que ele passe a enxergar todo o espaço a sua volta e não somente o meio urbano. Espaço esse, que talvez por descuido dos próprios praticantes, se tornaram mais restritos.

Esse desligamento com o conforto das praças (ou do pico) proporciona para eles experiências novas a todo o momento e uma oportunidade de aprendizado e re-aprendizado em tempo real.

Outros amigos, não fisicamente da mesma maneira (mas psiquicamente) vêem deixando as praças e transcendendo a palavra Parkour para um percurso constante de melhora pessoal em seu dia a dia. Quando eu vejo postagens como a do Duddu sobre "Treino Não Convencional - Lavar Pratos"  isso põe em xeque que não existe hora ou lugar para se praticar a eficiência e o aperfeiçoamento; que a busca pelo "ser forte, para ser útil" não se atribui a uma atividade ou a uma situação específica e sim a um sistema de aprendizado sem fronteiras e que não delimita espaço até onde o seu treino pode ir.

Esse tipo de superação exige dos tracers (e de qualquer pessoa interessada em elevar sua vivência aqui na terra) que aprendam a se posicionar em um patamar de auto-gestão e proatividade; onde o parkour/percurso começa no dia em que você descobre a prática e termina no dia da sua morte. Até porque “ser forte para ser útil” apenas por algumas horas do dia, teria o mesmo efeito que determinar até que ponto você é um tracer.

O Parkour desde a sua criação quebra com a barreira de delimitações de espaços: seja ele físico ou psíquico. Cabe ao praticante o permanente questionamento sobre o que ele esta fazendo: uma autocrítica perene para que as convenções sociais não se fixem novamente em um espaço específico para nós.



Bons Treinos!!

Agradeço em especial aos amigos Duddu, Bruno Melo, Zico, JC, Tal e Edi, que me inspiraram  escrever esse texto. foda-se todos!

  
         

              

   



O que vou escrever aqui, talvez para alguns, não vai fazer sentido ao relacionar os problemas que ocorrem no parkour com um sistema político. Mas vou tentar apresentar algumas alterações que surgem para um esporte depois da intervenção do capitalismo (e que transforma qualquer coisa em mercadoria). A concepção desse problema atinge prioritariamente as pessoas que enxergam um parkour livre de competições e livre das quatro paredes de uma academia.

Desde seu começo, o parkour, assim como outras praticas esportivas, sofre a interferência do capitalismo, descaracterizando alguns valores básicos do princípio da atividade. É histórica essa intervenção mercadológica do capitalismo. Atividades como o Kung Fu, Capoeira e Surf se alteraram e continuam se alterando através do tempo. 

No Surf, por exemplo, no começo, era comum que os próprios praticantes fabricassem suas pranchas por acreditar que esse processo transmitia energias positivas para ela, para quando se fosse praticar a a atividade pudessem liberar as energias negativas. Acreditavam que o ato de surfar era um culto ao espírito do mar. Há surfistas que preservam esses valores ainda hoje, mas, empresas já tomaram a função da fabricação das pranchas e com isso roubaram uma experiência única e própria da atividade. Onde se tinha uma troca de energia com o mar, hoje há a disputa entre o melhor desempenho dos competidores, deixando o mar em segundo plano. A prancha e o surf, caracterizam hoje, apenas um suporte para competir e não mais um elo com a natureza.

Com o parkour acontece algo similar. Uma prática que se inicia nas ruas, sem a necessidade de qualquer equipamento e que não estabelecia nenhuma relação de consumo. Seu único equipamento é seu próprio corpo e a prática exige a conservação do mesmo e uma nova compreensão sobre o espaço que cerca o praticante. Dessa nova percepção é que vai surgir outra possibilidade de interagir com o meio. O tracer tem como competidor, seus medos, que vai ser o termômetro para mantê-lo focado na vontade de sempre se fortalecer, tanto físico quanto mentalmente. Hoje em dia a funcionalidade dos movimentos cedeu lugar ao impressionismo, que garante uma escada para fama no mundo do “parkour show”.

A construção de praças especifica ou academias favorecem ao praticante um maior desenvolvimento da prática, no sentido físico da coisa, mas para onde vai sua percepção, por exemplo, quanto a utilização dos espaços “não próprios”? Sei o quanto o parkour é libertador, mas o quanto ele vai libertar entre quatro paredes? São alguns dos questionamentos que eu acho bastante necessário já que é histórica a nossa maneira mecanicista de pensar o mundo. Mecanizar o parkour é construir tracers em série, competitivos, vorazes e de movimentos idênticos e pensamentos estáticos.  

O pensamento cartesiano de René Descartes consiste em, basicamente, dividir um problema complexo em problemas menores. Essa forma de pensamento é, sem duvida, a maior influência em como o praticante de Parkour encontra respostas para suas perguntas. Se engana aquele que pensa que os problemas do parkour irão ser solucionados dentro de um modelo capitalisma. É preciso observar toda a conjuntura do problema, suas nuances e subdivisões e perceber que é de extrema importância a luta por um parkour sem competições. Mas essa luta, por si só, não vai alterar o rumo dos interesses do capital.

Então queria dizer que é muito importante saber interpretar a dimensão dos problemas, assim como é feito durante seu percurso num treino de parkour. Enxergar as dificuldades e possibilidades é fundamental para quem bate no peito para se considerar um tracer.

Bons treinos pra todos!!


Um Chamado à Luta (A Call To Arms)
Por Chris "Blane" Rowat
Tradução: Duddu



Desde quando uma travessia de 30 metros com uma criança pendurada em suas costas tornou-se menos importante do que um salto de 18 pés entre dois pontos e com uma aterrissagem grotesca? Estou pouco me lixando para suas passadas gigantes e barulhentas, pois há gente por aí com 43 anos, o dobro da sua idade, duas vezes mais forte e que cai de 2 metros e não faz o menor barulho.

As coisas que deveriam importar para o Parkour, não mais importam - e as coisas que hoje são largamente consideradas como impressionantes não são mais quando você as analisa com calma. Nossos valores estão sendo corrompidos.
Algumas vezes, tento olhar para o Parkour de forma neutra, como se eu nunca tivesse ouvido falar sobre ele antes.

O que eu acharia dele se eu tivesse ainda 17 anos e o descobrisse agora, ao final de 2012? Imagino que acharia bem legal e que provavelmente iria mergulhar nesse mundo também. Só que, diferente do que eu vi nove anos atrás, ele não iria me impressionar tanto como fez.

Se você terminar de ler esse artigo e se convencer a respeito dos valores que eu acredito dentro do Parkour, então você irá também se convencer de que se eu não me esforçar para espalhá-los eles irão desaparecer.
Os novos iniciantes irão somente enxergá-lo como uma atividade de pular de locais altos e não como uma prática extremamente versátil e acessível para qualquer um com o desejo de encarar desafios, conhecer e melhorar a si mesmo.

O que eu vi no Parkour em 2003, aos 17:
Uma elite de poucos com qualidade de movimentação e atenção aos detalhes em cada movimento que fazia e que esse nível era somente alcançado através de milhares de horas de deliberada prática e treinamento.
O espírito de um guerreiro insaciável com seu treinamento e com garra para encarar qualquer desafio, seja ele físico, técnico ou mental.
Uma comunidade em crescimento, positivista e inspirada por todos aqueles que vieram antes dela.
Um sistema de treinamento e uma comunidade que dava valor a todos os aspectos do Parkour de forma igualitária, e uma consciência coletiva interessada em um Parkour que durasse a vida inteira e não somente alguns meses.

O que eu vejo em 2012, aos 26:
Um crescimento em massa do número de praticantes ao redor do mundo.
Big jumps.
Péssimas aterrissagens.
Competições.
Uma preciosa minoria tentando se manter de pé sobre os velhos valores e duvidando de suas razões em fazer isso…
...e ultimamente, uma mudança do que é creditado como sendo Parkour.

E é justamente com essa pouca minoria que luta e sobre essa mudança de valores que eu me preocupo.
Eu sou responsável por deixar essa mudança acontecer sem encará-la, tanto quanto é responsável todos aqueles da “minha geração”. Nós todos ficamos de lado, deixamos o Parkour evoluir, ser modificado e se alastrar pela Internet sem que disséssemos: “Espere um minuto, isso é bom... mas e todas aquelas outras partes do Parkour por qual eu me apaixonei? Onde estão?”

Eu tento sempre ensinar meus alunos com esses valores em mente e eu sei que um bocado de homens e mulheres também fazem o mesmo por aí. Mas acontece que não é suficiente mantermos esses valores que nos cuidamos com tanto carinho presentes somente em nossas aulas em algumas cidades ao redor do mundo. Temos que mostrar isso em larga escala se quisermos mantê-los vivos. E mais importante do que isso, precisamos nos preocupar em deixar nossos testemunhos para que eles possam ser encontrados por todos aqueles que vierem a se interessar pelo Parkour em busca de algo mais do que big jumps.
Nos últimos anos que se passaram, ao invés de nos mantermos firmes e acreditar nos ensinamentos que passamos a admirar quando conhecemos o Parkour, dia a dia, vídeo a vídeo, nosso sistema de valores foi corrompido. Mesmo aqueles poucos que ainda hoje acreditam que Parkour é para todos, pode sentir que está regredindo, que não é tão bom quanto o cara novo, porque ele consegue fazer um salto que você não acha que consegue, ou talvez você nem tenha vontade de fazer.

Mas se você se lembrar dos valores que te trouxe a prática, então você não irá se importar em saltar tão longe quanto o “cara novo”. Lembra do que uma vez você aprendeu? O que é um salto, grande ou pequeno, sem uma boa aterrissagem? Quando foi que melhorar suas subidas de muro, suas flexões, seus agachamentos, seu quadrupedal ou então aumentar o seu recorde de ficar pendurado (se cair você morre!) se tornou menos prazeroso do que aumentar a distância de seus saltos?

Eu já vi em alguns treinos em grupo as pessoas fazerem piada com o cara que estava lá atrás se fudendo com um colete de peso e tentando fazer suas barras ficarem mais fortes. Quando foi que o que estava sendo executado por ele tornou-se uma parte inferior do Parkour?
Os desafios físicos não são algo novo no mundo do Parkour. Ao menos desde que ele existe, os desafios físicos são parte inerente a ele. Na verdade, como alguns de vocês irão se lembrar, muito antes dos saltos chamarem a atenção, os desafios físicos ERAM o Parkour.

Hoje não são mais. Os desafios físicos (e até mesmo, o treino físico) são atualmente espécie em extinção.


A ênfase mudou com o passar dos últimos anos e o Parkour não é mais o terreno perfeito para se testar do que a pessoa é feita fisicamente, tecnicamente, mentalmente... e emocionalmente.

Não é mais um desafio de saber se você é capaz de correr de uma cidade pra outra e se aventurar a retornar antes do pôr-do-sol. Não é mais um desafio para saber se você consegue empurrar um carro velho numa ladeira com os amigos que você riu e chorou durante o dia. E não é mais sobre conseguir entender o valor de se saltar para uma árvore molhada em caso de um dia você tiver que resgatar um desses amigos que ficou preso nela.

Agora é amplamente visto como um palco para talentos, uma oportunidade para as pessoas mostrarem ao mundo como eles conseguem saltar mais distante do que os outros. Ou então como eles estão dispostos a viajar metade do mundo para fazer o mesmo salto que viu outro cara realizar num vídeo do ano passado. Só que agora ele chega lá e faz de side-flip.

Eu vejo competições onde o “Melhor Atleta de Parkour” e os “Campeões Mundiais” gastam 37 segundos de corrida tentando fazer qualquer coisa mais impressionante do que o cara que se apresentou antes dele. Isso tudo antes do tempo acabar ou dele ficar sem fôlego. 37 segundos de uma perfomance medíocre? Eu tenho treinado com homens e mulheres que poderiam durar 37 minutos naquela mesma intensidade.

Quem deixou essa babaquice ganhar espaço sem resistência? Quando foi que isso se tornou o foco? Quando foi que fazer um salto mais longe que alguém se tornou algum valor para o Parkour? Quando foi que visitar um pico pra repetir os mesmos movimentos que alguém já fez se tornou a meta? Eu detesto admitir, mas fomos nós que deixamos essa merda crescer. Permitimos isso quando passamos a duvidar de nós mesmos e passamos a cogitar a possibilidade de um big jump ter alguma importância.

Aqui esta o vídeo de Jesse Owens saltando 26 pés (algo próximo a 8 metros) em 1936, Berlin, Alemanha.

 

Esse é um salto enorme mesmo para os padrões e a metodologia avançada de treino que temos hoje em dia. E esse salto não é só distante, mas muito, mas muito mais distante do que qualquer salto já realizado por qualquer praticante de Parkour entre dois pontos. Então porque a comunidade do Parkour (e, de fato, o mundo) fica impressionada quando alguém pula 18 pés entre dois muros e desmorona como se ali tivesse alguma caixa de areia como a de Jesse no vídeo? É porque eles são “corajosos” o suficiente de fazer isso em uma fenda? Em muitos casos o medo de cair só é derrotado pelo pensamento em ficar imortalizado no Youtube diante de milhares de pessoas vestidas em seus pijamas. É isso que você entende por “coragem”? Se for, então, por favor, feche essa página agora porque não há nada aqui pra você.

Mas se tem uma razão pessoal e válida para fazer um salto que carrega um risco para provar algo a si mesmo e então ultrapassar sua própria compreensão e responder as suas dúvidas; agir quando tudo dentro de você quer sair dali e ir para casa com intenção de provar SOMENTE algo a si mesmo; então isso é que é coragem e determinação. E esses são alguns dos valores que verdadeiramente foram construídos no Parkour. Os mesmos valores que a cada dia desaparecem diante de seus olhos. Ficar eufórico e se esforçar o máximo que puder para provar seu valor diante de alguém que esta do outro lado da internet, ou porque seu amigo já fez aquilo uma vez, somente revela imprudência e alguém com vida curta dentro do Parkour.

Eu gostaria de acreditar que a maioria das pessoas que estão lendo esse texto irão concordar que Parkour deixa de ser Parkour sem algum desses valores. Valores como coragem, decisão, fortalecimento, força, disciplina, dedicação e longevidade. Valores como humildade e altruísmo. Integridade.

Existem diversas maneiras que podemos ajudar a mudar positivamente o futuro de nossa prática e o melhor ponto de partida, e o jeito mais fácil, é não permitir que esses valores sejam perdidos.

Podemos inspirar a próxima geração de praticantes e permitir que eles compreendam que Parkour é muito mais do que realizar saltos impressionantes apenas fazendo com que nossas opiniões não adormeçam.
Comente nos vídeos, faça upload do seu próprio, escreva artigos, ensine, converse, viaje e treine da maneira que você acredita que o Parkour deveria ser treinado. Deixe as pessoas verem esse lado aonde quer que você vá. Represente e seja.

Esses valores não precisam ser manifestados como os desafios que mencionei anteriormente, mas ultimamente a única maneira que podemos significativamente crescer é encarar e se adaptar para superar essas adversidades. Isso pode ser feito da mesma forma que você encara um salto, quando ele te amedronta porque você crê que vale a pena enfrentar o seu medo e testar sua habilidade.


Pode ser de forma técnica. Ou talvez seja repetindo uma precisão correndo para um corrimão fino e tentando aterrissar perfeitamente 3 vezes consecutivas. 10 vezes em seguida. 50.

Ou talvez seja um desafio físico afinal. Você pode simplesmente escolher um dos seus exercícios favoritos e fazer um teste pra saber até quando você agüenta refazê-lo. Testar quantas repetições você consegue executar em dez minutos ou quanto de peso você consegue erguer depois de 6 meses de treinamento dedicado.


Na verdade, não importa qual será o desafio. O que importa é que você se desafie com freqüência a fim de realmente se conhecer e saber do que você é feito. Esse confronto e disposição para encarar obstáculos é o coração da fera que o Parkour é, e que infelizmente, a cada ano que passa ele bate cada vez mais devagar. Mas é essa exposição regular a desafios, tal quais esses que montamos, que irá disseminar esses valores nas pessoas.
O que as pessoas parecem não perceber é que um garoto de 19 anos que consegue saltar 18 pés, depois de um ano de treinamento, muito provavelmente não estará mais aqui nos próximos.

Poucas pessoas permanecem mais do alguns poucos anos nesse jogo, seja por conta de um machucado, perda de interesse ou qualquer outro dos incontáveis motivos. Então, ainda que o que ele faça seja impressionante, sim... o que você está treinando para fazer, 'ser e durar', pelos próximos 10, 20 anos... e mais, ainda forte, progredindo, treinando e se divertindo com o Parkour... Isso é muito mais impressionante para mim. Estes são os valores e os objetivos que me impressionaram e que existem naquela pequena elite que mencionei anteriormente. Estas são as coisas que eu não verei perdidas nos anos que estão por vir.

Não peça desculpas a respeito dos valores que você acredita e, mais importante ainda, não permita que o Parkour os perca se você acredita neles! Parkour vai se desenvolver e se tornar o que ele tiver que se tornar diante dos olhos de todos, mas se mantenha firme no que você considera importante porque você não está sozinho!
Não o deixe morrer ou então a próxima geração poderá jamais ver ou experimentar o que você viu e fez quando você descobriu o Parkour. Deixe o desafio e a longevidade moldar seu treinamento, seu objetivo e suas motivações. Estabeleça seus próprios desafios, mesmo se alguns deles parecerem impossíveis, pois mesmo neles você aprenderá um bocado. Lembre-se que o desafio não é um desafio se você não sabe como realizá-lo. Pegue um envelope, faça um convite à dúvida e a sua descrença e transforme esses velhos inimigos em seus aliados. Encare hábitos que parecem ser insuperáveis, freqüentemente, e então você crescerá como pessoa.
Se você quiser repetir aquele pequeno salto, aquele com um ângulo complicado, para uma parede coberta de limo. Se você pretende treiná-lo até chegar o dia em que você poderá realizá-lo com os olhos fechados... então meu caro amigo, você não está sozinho! Eu quero repetir esse salto com você! Mas vamos fazer 50. Só pra ter certeza. E um a mais por aqueles que não podem se juntar a nós. Isso fará a nós dois um bem maior do que aquele salto por cima do telhado carregando uma câmera.

Nós somos uma minoria agora, mas juntos nós somos ainda uma influência sobre aqueles que dizem que praticam Parkour. Ainda podemos fazer nossa mensagem ser ouvida por todos aqueles que conhecerão o Parkour agora, e nos próximos anos.

Este é um chamado à luta para aqueles que ainda se consideram a vanguarda do Parkour. A hora é agora. Faça a diferença mostrando, compartilhando e sendo todos os outros lados do Parkour que conhecemos e amamos. Os lados que muitos de nós estamos vendo ser esquecidos enquanto a nossa prática cresce.


Blane




Foi exibida na manhã deste domingo 21/08/11 uma reportagem no programa Esporte Espetacular gravada em um evento da Redbull intitulado Arte do Movimento. Houve descumprimento de acordos por parte da Red Bull para com a Associação Brasileira de Parkour. Foi pedido, antes de tudo, que eles não divulgassem que o evento seria um campeonato (competição) de Parkour. Mas eles não cumpriram com o que foi prometido. O que acabou tirando os Praticantes de Parkour do sério!

Por este motivo, eu, Priscilla Magalhães, estou escrevendo este texto com objetivo de tentar esclarecer que o que foi passado durante o Programa Esporte Espetacular, e o evento da Red Bull, é apenas o que eles querem que seja entendido pelos espectadores, fazer com que a prática tenha uma imagem de "esporte radical", o que é mais interessante de se ver, mais fácil de ser vendido e o que faz os negócios deles "bombarem". O que a Red Bull e a Rede Globo fizeram, foi um desrespeito, a partir do momento que eles não procuraram saber ou não divulgaram da maneira correta.

Na filosofia do Parkour não há competições e ele não é um ”esporte radical” no qual você busca somente "curtir a adrenalina". Há quem goste e faça isso, mas a essência do Parkour não é essa. O Parkour é coisa séria. Existem Associações e Grupos organizados que antes de tudo, procuram defender a origem da prática, que vai totalmente de encontro às competições. Então, antes de aceitar o que a mídia fala por aí, pesquise um pouco mais, procure saber a verdadeira História. Não só com o Parkour, mas com as notícias em geral !

Segue o link da reportagem:

http://globoesporte.globo.com/videos/esporte-espetacular/v/torneio-internacional-de-le-parkour-reune-representantes-do-mundo-todo/1604452/

O grupo Ibyanga apóia esta idéia:

"A Associação Brasileira de Parkour, enquanto entidade, gostaria de tornar público que os valores defendidos em seu estatuto não associam competições ao Parkour e nem apóiam tais iniciativas. O compromisso da ABPK continua sendo apenas com a disseminação saudável da atividade e desenvolvimento de projetos que promovam a construção de uma imagem sólida para o Parkour como atividade benéfica perante a sociedade.

A diretoria."


Fonte: Associação Brasileira de Parkour


A muito tempo eu sempre fiquei com uma pulga atraz da orelha pra saber como os meninos corriam por muito mais tempo que eu.
e eles sempre me falavam sobre o controle da respiração. O Poeta é um dos que me falou do metodo dele de respiração, enquanto corre.
Inspira e expira pelo maior periodo que consegue aguentar, apartir dai, muda para uma expiração pela boca, deixando ainda a inspiração pelo nariz, e nas últimas ele
me falou que esgota tudo respirando apenas pela boca.
As dicas desse ilustre estudante de educação fisica foram postas em pratica, porém, eu não soube aplicar. Treinando com a galera do grupo eu não consegui encontrar minha
maneira de desenvolver minha respiração. Mas em uma corrida pela manhã com uma amiga que queria iniciar um processo
de treinamento pra si, eu, tentando lhe explicar sobre essa aplicação da respiração, consegui desenvolver a minha, verbalizar o que me explicavam foi um ponto chave.
Quer queira ou não, apreendemos com todos ao nosso redor, e o ato de explicar o que era aquele exercicio de respiração, me organizou mentalmente das informações que me passaram.

"e a cada dia, queira ou não, aprendo uma lição." Kamau
Bons treinos !!


Então, esse vídeo é o começo de uma serie, tentando mostrar um pouco sobre o que o ibyanga pensa. Depois de um bom tempo observando a forma que muitos observam o parkour, dentro do próprio grupo, percebemos que era importante mostrar o quanto é, no mínimo, interessante a compreensão de cada um de nós sobre o parkour. Acredito também que deve haver pelo mundo a fora; grupos que não transformaram o parkour numa religião, e deixam seus praticantes pensar por si, e num tem coisa mais legal, do que, ver nego convivendo com as diferenças.

Tá ai algumas idéias da minha mutação diária, através das palavras, essas que dão significado e forma. O que eu mais queria mostrar com o vídeo é que a influência de fora é muito importante, mas que só você é que sabe seus limites e conheci a si, e seu meio urbano, social e cultural. Quando falo Parkour, vêm na minha mente, saltos, muros etc. Mas quando digo percurso, eu vejo mais do que a possibilidade do esporte, mais que, obstáculos concretos.

"Eu acredito que não existem heróis.
A gente pode ter pessoas realmente espetaculares, por exemplo, figuras espiritualizadas, religiosas, que são grandes modelos para a humanidade, mas na verdade, todo mundo é igual.
Eu não acredito que eu tenha uma verdade a mais. E principalmente a juventude.
Se a juventude cair nesse erro de acreditar que sim, elas inevitavelmente vão acabar descobrindo que o ídolo delas tem pés de barro."
-Renato Russo
Contato: Ibyanga@parkour.com.br