Pensar o todo, não pela metade.

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O que vou escrever aqui, talvez para alguns, não vai fazer sentido ao relacionar os problemas que ocorrem no parkour com um sistema político. Mas vou tentar apresentar algumas alterações que surgem para um esporte depois da intervenção do capitalismo (e que transforma qualquer coisa em mercadoria). A concepção desse problema atinge prioritariamente as pessoas que enxergam um parkour livre de competições e livre das quatro paredes de uma academia.

Desde seu começo, o parkour, assim como outras praticas esportivas, sofre a interferência do capitalismo, descaracterizando alguns valores básicos do princípio da atividade. É histórica essa intervenção mercadológica do capitalismo. Atividades como o Kung Fu, Capoeira e Surf se alteraram e continuam se alterando através do tempo. 

No Surf, por exemplo, no começo, era comum que os próprios praticantes fabricassem suas pranchas por acreditar que esse processo transmitia energias positivas para ela, para quando se fosse praticar a a atividade pudessem liberar as energias negativas. Acreditavam que o ato de surfar era um culto ao espírito do mar. Há surfistas que preservam esses valores ainda hoje, mas, empresas já tomaram a função da fabricação das pranchas e com isso roubaram uma experiência única e própria da atividade. Onde se tinha uma troca de energia com o mar, hoje há a disputa entre o melhor desempenho dos competidores, deixando o mar em segundo plano. A prancha e o surf, caracterizam hoje, apenas um suporte para competir e não mais um elo com a natureza.

Com o parkour acontece algo similar. Uma prática que se inicia nas ruas, sem a necessidade de qualquer equipamento e que não estabelecia nenhuma relação de consumo. Seu único equipamento é seu próprio corpo e a prática exige a conservação do mesmo e uma nova compreensão sobre o espaço que cerca o praticante. Dessa nova percepção é que vai surgir outra possibilidade de interagir com o meio. O tracer tem como competidor, seus medos, que vai ser o termômetro para mantê-lo focado na vontade de sempre se fortalecer, tanto físico quanto mentalmente. Hoje em dia a funcionalidade dos movimentos cedeu lugar ao impressionismo, que garante uma escada para fama no mundo do “parkour show”.

A construção de praças especifica ou academias favorecem ao praticante um maior desenvolvimento da prática, no sentido físico da coisa, mas para onde vai sua percepção, por exemplo, quanto a utilização dos espaços “não próprios”? Sei o quanto o parkour é libertador, mas o quanto ele vai libertar entre quatro paredes? São alguns dos questionamentos que eu acho bastante necessário já que é histórica a nossa maneira mecanicista de pensar o mundo. Mecanizar o parkour é construir tracers em série, competitivos, vorazes e de movimentos idênticos e pensamentos estáticos.  

O pensamento cartesiano de René Descartes consiste em, basicamente, dividir um problema complexo em problemas menores. Essa forma de pensamento é, sem duvida, a maior influência em como o praticante de Parkour encontra respostas para suas perguntas. Se engana aquele que pensa que os problemas do parkour irão ser solucionados dentro de um modelo capitalisma. É preciso observar toda a conjuntura do problema, suas nuances e subdivisões e perceber que é de extrema importância a luta por um parkour sem competições. Mas essa luta, por si só, não vai alterar o rumo dos interesses do capital.

Então queria dizer que é muito importante saber interpretar a dimensão dos problemas, assim como é feito durante seu percurso num treino de parkour. Enxergar as dificuldades e possibilidades é fundamental para quem bate no peito para se considerar um tracer.

Bons treinos pra todos!!


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